Um dos filmes mais interessantes que pude
assisitir recentemente foi “Planeta dos Macacos – A Origem”. Interessante e
pertinente, pela discussão que reacende.
Fonte: Twentieth Century Fox / Divulgação
O filme tem como proposta principal mostrar o que
teria ocorrido para que o ser humano fosse extinto do planeta, que viria a ser
habitado apenas pelos macacos, (daí o termo “a origem”), base para a conhecida
história contada pela primeira vez há mais de 40 anos. Quem conhece os filmes
anteriores certamente vai reconhecer as referências, mas quem não conhece não
ficará prejudicado, pois o filme é autossuficiente.
O filme segue uma sequência lógica, na qual
acompanhamos todo o amadurecimento (intelectual, moral) de Caesar, um símio
nascido em laboratório e criado por um cientista, que pesquisa incessantemente
uma cura pelo mal da Alzheimer, que acomete seu próprio pai. Só que sua
pesquisa, à primeira vista promissora, acaba saindo de controle e ao longo do
filme percebemos o quanto a arrogância e o egoísmo humanos podem fazer mal, não
somente aos outros animais, mas também à própria espécie humana...
Interessante observar que quanto mais
“humanamente inteligente” Caesar se apresenta, mais incomodado se torna com sua
situação; não com o fato de se perceber “macaco”, mas sim por enxergar e
compreender a forma humilhante com a qual é mantido, seja como “bicho de
estimação”, seja como um verdadeiro prisioneiro, em um suposto “abrigo para
primatas”. E à medida com que Caesar vai entrando mais profundamente em contato
com a mesquinhez e a insensibilidade do ser humano, desperta também para uma
nova consciência, de que não faz parte daquele mundo, e sente então crescer
dentro de si um misto de decepção e raiva pelos humanos, aliado ao orgulho por
ser quem é. Daí começa a sua saga junto aos outros tantos chimpanzés,
orangotangos, gorilas e bonobos - igualmente seviciados pelos homens -
culminando com a sequencia na qual ele lidera os outros macacos na fuga em
busca da merecida liberdade. Nesse ponto do filme Caesar encarna uma espécie de
“vilão”, pelo qual é impossível não torcer, pois seus atos se justificam.
“Ironicamente é uma história muito humana, com um protagonista muito humano”,
afirmou Rupert Wyatt, diretor, na ocasião da estreia do filme.
“Planeta dos Macacos – A Origem” traz à tona a
velha discussão sobre a experimentação animal, sua real necessidade e seus
limites.
Muitos cientistas preocupam-se com a
regulamentação das pesquisas científicas no que diz respeito à manipulação
genética (transgênicos) e principalmente à introdução de células humanas em
animais (gerando as chamadas quimeras), mas a grande preocupação na verdade se
dá pelo fato de que ainda não se teria definido o percentual de células que
garantiriam àquele ser vivo direitos humanos. Ora, e os direitos “animais”,
onde ficam? Na verdade, esse deveria ser o ponto principal a ser discutido,
mas, infelizmente, não é muito considerado. A ética, neste caso, torna-se um
pouco deturpada.
O ser humano desrespeita, explora, ridiculariza
e subjuga os outros animais (sim, também somos animais), menosprezando seus
sentimentos. É um atraso continuar pensando que os outros animais existam
simplesmente para servir aos humanos.
Essa discussão, apesar de não ser nova, é
negligenciada pela comunidade científica, que no fundo tem a consciência de que
os testes de laboratório causam sofrimento aos animais. O zoólogo e escritor
Desmond Morris, em artigo publicado pelo jornal britânico The Sun, afirma:
“Preferimos fechar os olhos porque desfrutamos dos benefícios”.
A experimentação animal é uma realidade no mundo
todo, a maioria dos produtos existentes (medicamentos, produtos de limpeza,
vacinas, cosméticos, entre outros) passaram por testes em animais, muitos
comprovadamente desnecessários.
Mas afinal, nem tudo está perdido. No dia 13 de
setembro foi assinado um termo de cooperação pela Anvisa, juntamente com a
Fiocruz, que prevê a diminuição dos casos em que os testes em animais seriam
considerados necessários e a validação das chamadas metodologias alternativas
de experimentação.
Essa é uma tendência que começa a ganhar força;
desde 2004 a União Européia rejeita o uso de cobaias no desenvolvimento de
artigos cosméticos. Seguindo essa linha, produtos oriundos de países que ainda
realizam os testes, incluindo o Brasil, não conseguem difusão no exterior.
Preocupadas com isso algumas indústrias brasileiras estão investindo na
abolição dos testes com animais na produção de cosméticos.
Aparentemente, então, a principal preocupação do
Brasil não seria exatamente minimizar o sofrimento dos animais, mas sim
garantir espaço de alguns produtos no mercado externo. Mais um ponto para o
egoísmo humano. De qualquer forma, toda iniciativa que venha a ser positiva
para os animais é válida. Vamos torcer para que dê certo, porque todos os animais
tem direito à vida e, principalmente, à dignidade.
Quanto a nós, podemos buscar consumir produtos
livres de crueldade, além de torcer muito para que possa chegar o dia em que
todo ser humano, ao olhar para os 'olhos brilhantes' de um outro animal, possa
vir a enxergar a si próprio refletido neles.
Então, no final das contas, quem são os vilões
da história mesmo?...
Abraços,
Adriana Miranda
Imagem: Twentieth
Century Fox / Divulgação
Parabéns pelo artigo, muito bom!!!
ResponderExcluirAdorei o trecho que diz "que possa chegar o dia....refletidos nele"